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  • Mariana Lopes, jornalista

Entrevista ao Midiamax-MS

Para quem já sofreu bullying, apoio dos pais e da escola pode definir desfecho



Ana Bárbara enfrentou síndrome do pânico após abusos




Uma menina de sorriso largo e fácil, que gosta de se divertir com os amigos e muito extrovertida. Assim, a estudante Ana Bárbara Vilela de Almeida, 15 anos, se descreve. Mas no início deste ano, ela enfrentou a severidade do bullying praticado por colegas da escola, através de uma corrente de grupo de WhatsApp. O que para alguns alunos foi uma “brincadeira”, para ela gerou um problema psicológico que precisou de tratamento sério.

Na última semana, o caso do menino de 14 anos que matou dois colegas da escola e deixou outros feridos em Goiânia, trouxe à tona a discussão acerca do assunto. Análises da situação dividem opiniões de profissionais. Afinal, o garoto autor dos disparos sofria bullying? De que maneira? Como identificar? Como ajudar?

Questionamentos pertinentes para desenrolar este novelo. Mas o assunto merece cuidado, principalmente por parte dos pais e da escola. No caso de Ana Bárbara, a atenção dada pela mãe foi imprescindível.

“Eu ganhei um sorteio na escola e tiraram uma foto minha para colocar no site, mas saí com a boca aberta. No outro dia, meus colegas de sala colocaram essa foto no perfil do grupo do WhatsApp. Eu nem estou neste grupo, mas soube porque uma amiga minha printou e me mandou. Depois também fiquei sabendo começaram a fazer memes me zuando e espalharam em outros grupos”, recorda a estudante.

Triste e abalada com a situação, Ana Bárbara levou o problema primeiro à mãe e depois à coordenação do colégio. “Mostrei todos os prints para a minha mãe e ela viu a gravidade, entendeu o quanto aquilo me atingiu, e na escola todos se empenharam para descobrir quem tinha feito as montagens”, conta a adolescente.

Os responsáveis por espalhar as mensagens foram identificados e suspensos. “Mas ninguém me pediu desculpa, não acharam que o que fizeram foi grave, encararam só como brincadeira”, lamenta Ana Bárbara.

A estudante lembra que, na época, ela sofreu com uma síndrome do pânico. “Fiz terapia, tive que entender que o problema estava nos outros e não em mim, e também enxerguei que quem ri participa indiretamente”, diz.


Reflexos - Para a psicóloga e especialista em bullying Valéria Rezende, as escolas precisam urgentemente capacitar os profissionais que atuam nas unidades. “É lei ter programas que tratem o assunto, mas está só no papel. Embora todos estejam conscientes, não há capacitação dos educadores para identificar casos de bullying”, alerta.

Valéria atuou por 20 anos dentro de escolas, lidando com o problema diariamente, e ela afirma que é preciso um olhar atento aos alunos todos dias. “Começa em algo bobo, mas se não der atenção, pode ficar grande. As escolas continuam negando o bullying, dizem que sempre existiu, mas estamos vivendo uma época de muita violência, as redes sociais estão ensinando a sermos intolerantes, disseminando uma cultura de ódio. E o bulliyng deixa marca, não tenho dúvida disso”, destaca a psicóloga.

Segundo Valéria, existem três personagens no bullying: vítima, agressor e expectador. “A plateia pode incentivar ou desestimular. Quando ri, dá mais poder ao agressor. Este, por sua vez, pode ter mais problema do que a vítima. Tudo é um reflexo do que a criança e o adolescente sofrem em casa. Pode ser uma pessoa que traz insegurança, que busca aceitação, são vários casos”, explica Valéria.

Mas em todo caso, Valéria ressalta que cada um reage ao bullying de uma maneira, mas que isso não é justificativa pra nada. “Ninguém pode matar outro porque sofre abusos”, diz.


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