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  • Louise Queiroga, O Globo, 22/08/2018

Menino de 9 anos se enforca no Recife. Segundo a mãe por desafio na internet.


RIO — A mãe de um menino de 9 anos acredita que seu filho se enforcou no quintal de casa, no Recife, na última quarta-feira, por influência de desafios de asfixia que circulam na internet. Os pais da criança e duas vizinhas foram ouvidos no Departamento de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) da capital pernambucana nesta terça-feira. A Polícia Civil não descarta a hipótese apresentada pela família e informou que espera resultados de laudos.

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De acordo com a delegada Thaís Galba, responsável pelo caso, a mãe reclamou que o filho mal dormiu na noite do dia 14 porque usou muito o celular. Por isso, na manhã do dia seguinte, retirou o aparelho dele e disse que só lhe devolveria no fim de semana. No entanto, naquela noite, o menino se enforcou no quintal. Ele morreu na última quinta-feira.

— Em depoimento, o que a mãe me contou foi que ele tinha um celular e usava a internet, mas não percebeu nada de extraordinário no conteúdo acessado por ele. Ela comentou que uma sobrinha dela, que é estudante de Medicina, contou que rolava na internet desafios de asfixia. A mãe então lembrou que Artur mostrou para ela a boneca Momo e disse "Olha, mãe, que boneca feia". Eu não tenho essa prova ainda (de que o menino se enforcou por influência de um desafio online). O celular da criança foi enviado ao Instituto de Criminalística e nós por enquanto não descartamos nenhuma hipótese — disse Galba.

Momo é o termo pelo qual ficou conhecida uma obra de arte japonesa que mistura a imagem de uma mulher com um pássaro. Um caso semelhante deixou em alerta pais de crianças e adolescentes na Argentina no final de julho, quando a polícia local iniciou uma investigação sobre o suicídio de uma menina de 12 anos que recebia ameaças pelo WhatsApp de um contato identificado como Momo.

Os pais e as duas vizinhas ouvidas na delegacia nesta terça-feira contaram que o menino era alegre, simpático, educado e não apresentava sintomas de rebeldida ou transtornos psicológicos. Não foi informado, contudo, quando a criança começou a utilizar o aparelho celular. Segundo a mãe, com quem o menino morava, ele não possuía perfis em redes sociais.

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— Perguntamos se era uma criança triste, se tinha demonstrado sintomas de depressão, mas nenhum relato indicava isso — afirmou a delegada.

Para ter uma visão melhor dos fatos e poder avançar com a investigação, Galba disse que ainda precisa ouvir mais pessoas próximas à família do menino e analisar os resultados da perícia do Instituto de Criminalística sobre o celular dele e do Instituto Médico Legal (IML) sobre a causa da sua morte.

Menina de 12 anos sofre queimaduras graves no 'desafio do fogo'

A notícia de uma menina de 12 anos que sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus em 49% do corpo após participar do "desafio do fogo" chocou os Estados Unidos nesta semana e repercutiu internacionalmente.

Conhecido na web por seu nome em inglês "Fire Challenge", o desafio consiste em espalhar líquidos inflamáveis pelo corpo e incendiá-lo, enquanto uma câmera filma a cena para depois compartilhá-la nas redes. Ele começou a circular nas redes sociais há pelo menos quatro anos, mas, apesar dos alertas de perigo, continua a despertar a curiosidade de acolescentes, que colocam suas vidas em risco ao participarem.

Especialista recomenda diálogo frequente e aberto entre pais e filhos

A psicóloga e especialista em jogos perigosos na internet Juliana Guilheri explicou ao GLOBO que desafios como esse reforçam a necessidade de os pais acompanharem o conteúdo que seus filhos acessam na web. E que isso não significa desconfiar deles.

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— Faz parte da personalidade do jovem querer firmar sua autonomia, querer mostrar que está se tornando um adulto, mas cabe aos pais pegarem na sua mão e mostrar que estão juntos ali para acompanhá-lo nessa caminhada. É importante haver um controle parental, mas também uma relação de confiança. O jovem pode participar dos desafios por uma questão de autoestima, quando ele faz um desafio para ele mesmo, para vencer a si próprio. Mas também pode ser por pressão dos amigos ou por curiosidade. Os adolescentes relativizam muito o perigo real desse tipo de desafio, então é importante haver diálogo com os pais.

Guilheri apresentou algumas recomendações aos pais, como olhar o histórico do filho na internet para acompanhar o que ele está fazendo, dialogar com ele sobre os riscos que pode correr se imitar algumas das atitudes publicadas nas redes sociais e pedir que o filho avise quando alguém lhe propor algo inapropriado. A pscióloga ressaltou que agir assim não é sinal de desconfiança, mas uma forma de estar presente na vida do adolescente.

— A melhor forma (de evitar uma consequência trágica) é o diálogo entre os pais e as crianças para que eles possam mostrar para seus filhos que há essas atividades perigosas, que não são brincadeiras. É preciso que o adolescente conte se algum vizinho ou amigo propuser qualquer tentativa que possa colocar sua vida em risco, como esse desafio do fogo ou aqueles desafios de asfixia. É preciso alertar um adulto — disse a pesquisadora e professora da Universidade Paris Nanterre, na França.


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