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Existe bullying praticado pelo professor?

 

Muitos estudiosos e teóricos só consideram bullying quando praticado entre pares. Eu, no entanto, acho que existe bullying praticador por professor, já que é uma relação desequilibrada de poder e que tem, sim, intenção de humilhar o aluno, e pode se repetir ao longo de todo ano letivo.

 

Acabo de ler School Bullying – New Perspectives on a Growing Problem, de David Dupper, publicado agora em 2013. Quero compartilhar com vocês o ponto de vista do autor, com tradução livre minha.

“Bullying por Professores e Outros Adultos da Escola

É essencial reconhecer o bullying em todas as suas formas nas escolas. Enquanto a grande maioria dos professores interage respeitosamente com os alunos, há uma crescente evidência de que alguns professores realmente praticam bullying com os alunos. Este é um tipo de bullying potencialmente devastador e que não é reconhecido e geralmente acontece de forma escondida. Embora as leis estaduais (americandas) protejam os menores do abuso físico e emocional por parte dos pais e tutores (Child Welfare Information Gategay, 2011), estas proteções legais não acompanham os alunos no ambiente escolar. Embora a natureza destrutiva do bullying entre pares na escola venha sendo extensivamente relatada na litaratura (Borg, 1999; Boulton & Underwood, 1992;Olweus, 1993), relativamente pouca atenção, até agora, tem focado nos professores como perpetradores de bullying. No entanto, mesmo se só alguns professores se engajarem neste comportamento dentro da escola, as consequências são profundas para as vítimas bem como para todo o ambiente escolar (McEvoy, 2005).

Como a relação positiva entre professor e aluno é um fator fundamental para o desenvolvimento e experiência educacional de uma criança, há uma necessidade premente de aumentar nossa compreensão sobre esta forma insidiosa de bullying em nossas escolas. Assim como com as outras formas de bullying discutidas neste livro, o abuso de poder também é um componente central do bullying por parte do professor. Por exemplo, Twemlow & Fonagy (2005) definem um professor bully como “quem usa seu poder para punir, manipular ou menosprezar um aluno além do que seria um procedimento disciplinar razoável (p.2387).” McEvoy (2005) amplia esta definição ao definir o bullying por professor como “um padrão de conduta, enraizado num diferencial de poder, que ameaça, prejudica, humilha, induz medo ou provoca um substancial stress emocional nos alunos… tal como bullying entre pares, o bullying praticado por professor é um abuso de poder que tende a ser crônico e geralmente é expresso de maneira pública” (p.1). Devido ao enorme diferencial de poder entre alunos e professores, o bullying praticado por professor resulta nos alunos tendo pouca ou nenhuma capacidade de se defender (Hyman & Perone, 1998).”

DUPPER, D.R.  School Bullying – New Perspectives on a Growing Problem.  Oxford University Press, NY, 2013.

 

Continuo a tradução do livro de David Dupper:

“Qual a razão da escassez de pesquisa sobre professores que fazem bullying com os alunos?

Existem vários aspectos singulares e altamente políticos em relação ao bullying por professor que dificultam sua abordagem e avaliação. Primeiro, os comportamentos de bullying por professores geralmente são igualados a manter a ordem e a disciplina e, portamento, frequentemente são ‘indetectáveis’. Os professores que cometem bullying com os alunos geralmente disfarçam seu comportamento cruel e aviltante como respostas disciplinares apropriadas ao comportamento inaceitável do aluno ou como um meio necessário para ‘motivar’ os alunos a se comportarem adequadamente (McEvoy, 2005). Devine (1996) apontou que a linguagem dura, intimidação, conduta grosseira e postura grosseiras que alguns professores usam para exercer o poder e autoridade sobre os alunos geralmente são elogiados por outros professores e gestores.

Segundo, existem poucas ou nenhuma consequência negativa ou qualquer tipo de punição para professores que fazem bullying com os alunos (Koenig & Daniels, 2011).  Os atuais regimentos escolares nem mesmo reconhecem esse tipo de bullying como um problema e, consequentemente, não fornecem nenhum mecanismo formal para remediar as queixas dos alunos contra professores abusivos. Esta falta de políticas e de ação institucional servem para tacitamente sancionar o comportamento bullying de professores e o mau trato de alunos (McEvoy, 2005; Sylvester, 2011).  Além disto, os pais podem relutar em confrontar um professor devido a sentimentos de intimidação, ou podem pertencer a uma cultura em que lecionar é de alto valor e a conduta de um professor ou suas técnicas de controle de sala nunca seriam questionadas (Sylvester, 2011).

Terceiro, fazer pesquisa sobre bullying de professor com  alunos é difícil simplesmente porque os pesquisadores não podem observar este fenômeno, muito provavelmente por os professores mudariam seu comportamento na presença de observadores (Hyman et al., 1997), e os professores podem relutar em discutir abertamente este problema com medo de serem evitados por seus colegas (Twemlow, Fonagy & Sacoo, 2004).

Quarto, se um professor for acusado de bullying contra um aluno, pode haver um conflito com as associações de professores em que a proteção do professor pode ter precedência sobre o impacto que o professor que praticou bullying terá no corpo maior de professores ou nos alunos vítimas de professores bullies (Twemlow, Fonagy, Sacco & Brethour, 2006).

DUUPER, DAVID R.  School Bullying – New perspectives on a growing problem.  Oxford University Press, NY, 2013.

 

“O que sabemos atualmente sobre Bullying por Professor ?

Vários pesquisadores começaram a investigar sistematicamente professores que fazem bullying com alunos. Por exemplo, McEvoy (2005) relatou que em várias escolas pelo menos um ou mais professores podem ser identificados como abusivos em relação aos alunos e que esses professores tendem a estar seguros em suas posições. Twemlow & Fonagy (2005) encontraram que 45% dos professores no seu estudo afirmaram que tinham feito bullying com aluno em algum ponto de sua carreira e que os professores que fazem bullying contra os alunos podem contribuir para os problemas comportamentais dos alunos na escola. Em outro estudo, 70% dos professores primários admitiram praticar bullying com alunos de forma isolada, e 18% dos professores primários relataram praticar bullying de forma frequente (Twemlow, Fonagy, Sacco & Brethout, 2006).

Fui coautor de um estudo que explorou a extensão em que alunos de uma escola alternativa relataram ser vitimizados por professores ou outros adultos durante sua vida escolar (Whitted & Dupper, 2008). Os participantes deste estudo eram uma amostra de conveniência de 50 alunos variando de 11 a 18 anos de idade que frequentavam escolas alternativas num distrito escolar urbano, num estado do sudeste dos Estados Unidos, durante o ano escolar 2004-2005. Para determinar se os alunos foram física ou psicologicamente vitimizados por pares ou adultos em algum ponto durante sua carreira escolar e a natureza e frequência desta vitimização, pediu-se aos participantes que completassem uma versão revisada da Student Alienation and Trauma Survey (Hyman & Snook, 2002).  Encontramos que 86% dos respondentes relataram pelo menos um incidente de mau trato físico por adulto na escola, e 88% relataram pelo menos um incidente de mau trato psicológico na escola. Os tipos mais comuns de mau trato físico  envolveram um adulto não permitindo que fossem ao banheiro (70%); um adulto segurando-os com muita força (38%); e adultos socando-0s (32%), empurrando-os (28%), ou sacudindo-os (26%). Os tipos mais comuns de mau trato psicológico envolveram gritos de um adulto (66%), um adulto fazê-lo ficar longe dos outros (64%), e ser ignorado por um adulto (56%). Os alunos relataram que os adultos tiraram “sarro” deles ou “pegaram no pé” de uma forma prejudicial (34%), disseram coisas chatas sobre a família dos alunos (34%) ou riram deles por causa de sua raça ou cor da pele (20%). Estudantes que são vitimizados por adultos na escola estão envolvidos num desequilíbrio de poder que os torna extremamente vulneráveis a maus tratos e abuso contínuos. Ser “empurrado por um adulto numa máquina de salgadinhos” ou ouvir que “você se veste como uma piranha” é muito humilhante, mas por não poder defender-se de comentários dolorosos e degradantes, se é ainda mais vitimizado. Por exemplo, quando um aluno tenta se defender em resposta a um comentário aviltante feito por um professor ou outro adulto, ele também  é frequentemente punido “levando uma detenção ou suspensão das aulas por ter sido ‘desrespeitoso’ com um adulto ou autoridade” (p.399). Concluímos dizendo que “os resultados do estudo sugerem que o bullying professor sobre aluno pode existir mais do que anteriormente se pensava”. (p.339). ”

DUPPER, DAVID R.  School bullying – New perspectives on a growing problem.  Oxford Univesity Press, NY, 2013.

 

 

 

 

 

 

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