O bullying tem uma única causa?
Gosto muito da abordagem de Espelage, Napolitano e Swearer[1] que adotam a teoria sócio-ecológica para explicar o bullying e acreditam que “as condições ambientais podem estimular ou inibir este comportamento”.
A teoria sócio-ecológica de Bronfenbrenner (1977,1979) afirma que “o desenvolvimento social das crianças emerge, é mantido e modificado como resultado da personalidade e características da criança e de como estas características interagem dentro dos subsistemas maiores ou contextos sociais (p.ex., os pares, a família, a escola)”.
Bronfenbrenner inclui quatro sistemas inter-relacionados: micro-sistema, meso-sistema, exo-sistema e macro-sistema.
O micro-sistema é aquele com o qual o indivíduo tem um contato direto, incluindo os pais, irmãos, colegas e escolas. O meso-sistema compreende as inter-relações entre os diferentes microssistemas, como a relação entre a família de um jovem e seus colegas. O exo-sistema compreende as influências dos outros sistemas como, por exemplo, o envolvimento dos pais com as escolas. O macro-sistemaengloba as influências sociais e culturais que têm impacto sobre os indivíduos.
Para os autores acima citados o bullying/vitimização não ocorre de forma isolada e resulta, de fato, “de uma complexa interação entre o indivíduo e sua família, grupo de pares, comunidade e normas sociais” (Swearer & Espelage, 2004).
Fatores da escola
Fatores familiares
Fatores do grupo de pares
Fatores da comunidade
Nenhum destes fatores, isoladamente, é suficiente para explicar o comportamento bullying/vitimização. Segundo eles, crianças e adolescentes que correm o risco de se engajar em comportamentos de bullying ou de serem vítimas dele experienciam vários fatores de risco nestas áreas e têm menos experiências protetoras.
Suponhamos que Maria, de sete anos, é uma garota impulsiva e que responde com agressividade especialmente em situações em que vê algum desejo seu frustrado. Estas suas características de personalidade sozinhas não querem dizer que vai praticar bullying na escola. No entanto, se na família não lhe ensinam como lidar com esta raiva, onde predominam as relações agressivas entre pais e filhos, aumenta o risco de ela vir a ser bully na escola. Se a escola para onde Maria for não tiver uma ação clara de prevenção e combate ao bullying, suas características pessoais e vivências familiares vão se exacerbar e Maria pode se juntar a um grupo de colegas para quem bullying é uma forma de se divertir. Não podemos nos esquecer dos aspectos da comunidade em que Maria, sua família e escola estão inseridas. É uma comunidade violenta? É uma comunidade com líderes positivos? Que valores são pregados nesta comunidade?
Espelage,e Swearer e Napolitano têm uma perspectiva otimista e acreditam que existem vários “pontos de parada” para as crianças não se tornarem bullies, vítimas ou bullies-vítimas. O suporte social, amigos, um clima escolar positivo, envolvimento em atividades extracurriculares e uma família que apoia, todos servem como tampão para o bullying.
[1] SWEARER, S.M. , ESPELAGE, D.L. & NAPOLITANO, S.A. Bullying Prevention & Intervention – Realistic Strategies for Schools. The Guilford Press, NY. 2009