Quero falar hoje sobre uma questão do bullying que sempre me deixou pensativa. Por que seria que crianças e jovens, vítimas de bullying às vezes por muito tempo, se mantinham caladas, sem contar para ninguém o que sofriam na escola?
Inúmeras vezes, mesmo quando questionadas sobre o que vinha acontecendo, permaneciam caladas e nada diziam.
Depois de muito observar, manter contato com vítimas de bullying, e estudar, cheguei a algumas conclusões importantes, descritas no meu livro BULLYING NÃO É BRINCADEIRA, e que transcrevo abaixo.
1. Têm vergonha de estar sofrendo bullying. Eles introjetaram a ideia de que sofrer bullying é para os fracos, os perdedores e sentem uma vergonha imensa de isso acontecer com eles.
Muito dessa vergonha, principalmente dos meninos, vem do que aprenderam em casa. Os pais passam a lição "se apanhar, devolve"; "se chegar em casa chorando porque te bateram, vai apanhar mais ainda". O medo só faz aumentar e acham que é preferível sofrer sozinho do que sofrer mais humilhação em casa.
2. Têm medo de retaliação. Os agressores fazem muitas ameaças, e o medo e a ameaça se juntam para promover o "código do silêncio" que permite que os agressores continuem agindo.
3. Acham que ninguém pode ajudá-los, pela indiferença dos professores e a distância e falta de intimidade com os pais. Quando a escola fecha os olhos para o bullying, passa a mensagem que ali ele é tolerado e que nada será feito para combatê-lo e proteger a vítima.
4. Não contam aos pais para não fazê-los sofrer. É comum contarem na escola e pedirem para não contar aos pais que já estão cheios de problemas (desempregado, em processo de separação, doença na família, etc).
Portanto, é preciso que pais e educadores abram um canal de comunicação onde o aluno percebe que será ouvido atentamente e que algo poderá mudar.